Com Katy Perry e Karol G, Dia Delas no Rock in Rio mostrou que o festival precisa de mais headliners femininas
Por Gabriel Sant’ana
Na última sexta-feira, aconteceu o “Dia Delas” no Rock in Rio 2024, reunindo apenas artistas femininas na lineup de todos os palcos. O que foi divulgado como uma celebração do talento feminino, com artistas de estilos e nacionalidades diversas, soou mais como uma forma de disfarçar a falta de headliners mulheres no restante da edição de 40 anos do festival.
Como grandes fãs de música e das artistas que estavam no palco, a Sonora esteve lá para conferir tudo de pertinho e compartilhar nossa visão do que rolou. Aliás, fizemos isso também na semana passada, no primeiro dia do festival. Clique aqui para ler caso tenha perdido.
Vamos lá para nossas impressões: Ivete Sangalo abriu o Palco Mundo com um show digno de headliner, que mostrou de uma vez por todas por que já se apresentou em 17 edições do festival, no Brasil e no mundo. Comemorando seus 30 anos de carreira, a cantora trouxe hits icônicos que atravessaram gerações e ainda apresentou de surpresa a inédita Seus Recados ao lado de Liniker, agitando ainda mais o público.
O momento mais icônico foi quando ela literalmente sobrevoou a plateia ao som de Eva, relembrando seus dias à frente da Banda Eva. Para encerrar, Ivete trouxe suas filhas, Marina e Helena, para o palco e, juntas, fizeram uma reprise de O Mundo Vai, fechando o show com chave de ouro.
Na sequência, Cyndi Lauper subiu ao palco. A diva dos anos 80 começou seu show de forma abrupta e enfrentou problemas técnicos perceptíveis durante toda a apresentação. Mesmo assim, sua performance foi potente e repleta de clássicos, criando uma conexão entre gerações que só músicas boas e atemporais, como as compostas e interpretadas por Cyndi, conseguem estabelecer.
She Bop, Time After Time e True Colors estavam no setlist, e Cyndi fez questão de interagir com o público de forma divertida - e às vezes até confusa -, respondendo com humor a gritos de fãs e levantando bandeiras feministas, com direito a indireta à Donald Trump. Um dos momentos mais impactantes foi o coro de Girls Just Wanna Have Fun, quando ela adicionou "Boys" e "They/Them", reforçando o discurso de igualdade e inclusão. Seu show pode ter começado devagar para uma parte mais jovem do público, mas terminou em alta, com todos dançando e aplaudindo.
A penúltima atração do Palco Mundo foi Karol G, que trouxe uma mudança total de vibe. Se o show de Cyndi foi mais despretensioso e espontâneo, Karol chegou com tudo planejado e coreografado. A colombiana entrou no palco ao som de milhares de fãs gritando “bichota”, seu apelido carinhoso, a plenos pulmões.
Sua apresentação seguiu com uma produção cheia de efeitos visuais, dança e pirotecnia. Ela tocou mais de 15 músicas, e os destaques foram a performance de TQG, acompanhada de uma inusitada fonte de água no palco, e a dobradinha de Alibi com Si Antes Te Hubiera Conocido, que contou com as participações especiais de Pabllo Vittar, Sevdaliza e Yseult.
Para fechar a noite, Katy Perry fez um show de cair o queixo, estreando o álbum 143 no palco do Rock in Rio. A cantora, que não vinha ao Brasil desde 2018, entrou levitando no palco e trouxe uma setlist de 27 músicas, misturando sucessos antigos de forma repaginada com músicas nunca antes apresentadas ao vivo.
Enquanto Chained to the Rhythm e Wide Awake ganharam versões mais eletrônicas e menos empolgantes, Hot N Cold se destacou com Katy assumindo a guitarra e trazendo mais energia à apresentação, e The One That Got Away ganhou mais força em sua forma acústica. Um dos momentos mais emocionantes foi a performance de Time After Time, dedicada aos fãs, com Cyndi Lauper retornando ao palco para uma participação especial.
Mesmo enfrentando problemas técnicos com o retorno, Katy manteve a energia lá em cima e entregou o melhor show da noite, incluindo a participação de um fã convidado a dançar no palco e apresentações inéditas de faixas queridas do álbum Smile, lançado em 2020 durante a pandemia. Com o show, Katy provou que continua sendo uma força poderosa na música pop, com muito ainda a oferecer.
Nos intervalos entre as apresentações no Palco Mundo, também acompanhamos o Palco Sunset. Tyla trouxe uma mistura de funk e afropop, criando uma conexão com o público ao incluir referências brasileiras como interpolações com Parado no Bailão e Tá Ok em suas músicas.
Gloria Gaynor apresentou, bem… quase um show de covers. A diva trouxe um repertório que foi de Barry White a Meghan Trainor e Christina Aguilera. Um ponto curioso foi a performance excêntrica e inesperadamente envolvente de seu trombonista em Happy, de Pharrell Williams.
Já IZA, grávida de 8 meses de sua primeira filha, encerrou as atividades do palco com uma proposta visual deslumbrante e uma performance vocal impecável. No entanto, a setlist previsível, recheada de covers, e a pouca presença de faixas de seu último álbum, Afrodhit, deixaram a desejar. E honestamente, com tantas boas músicas no disco, escolher Mega da Virada como uma das poucas apresentadas foi, no mínimo, questionável.
De modo geral, o festival foi bem organizado, considerando o desafio de acomodar 100 mil pessoas no mesmo espaço. O maior problema, tanto para o público quanto para os artistas, foram as falhas no som e no retorno, que prejudicaram a experiência em algumas apresentações. Ainda assim, todas as performances ofereceram espetáculos memoráveis. Com esse aprendizado, esperamos que Roberta e Roberto Medina reconheçam a importância de dar ainda mais destaque às artistas femininas no festival.