por que não ouvimos a música dos nossos vizinhos?
apesar do sucesso global da música latina, parece que ela não "pegou” no Brasil
Na edição 49 da Sonora, exploramos os motivos pelos quais a música em espanhol ainda não conquistou o Brasil, analisamos o impacto do TikTok nos EUA e seu banimento relâmpago, e claro, destacamos um lançamento nacional imperdível que você precisa ouvir. Mas antes de entrar nesses temas, que tal revisitar o nascimento de uma das bandas mais icônicas do planeta?
🗓️ O DIA DE HOJE NA MÚSICA
por Gabriel Sant’Ana
Há 41 anos, o Bon Jovi lançava seu álbum de estreia homônimo, marcando o início de uma trajetória que os levaria ao estrelato mundial. O disco apresentou, entre nove faixas, Runaway, single que abriu portas para a banda.
O álbum, produzido por Tony Bongiovi — primo de Jon Bon Jovi e reconhecido por trabalhos com Ramones e Talking Heads —, pode não ter alcançado o sucesso de lançamentos posteriores como Slippery When Wet (1986), mas foi um passo importante para a banda encontrar seu som e conquistar seu público.
No ano passado, para celebrar os 40 anos desse lançamento, Bon Jovi disponibilizou uma edição deluxe do álbum nas plataformas digitais, incluindo demos, takes alternativos e registros ao vivo.
Revisitar esse disco é uma oportunidade de apreciar as raízes de uma das bandas mais icônicas do rock mundial, então aproveite para fazer isso enquanto lê a Sonora de hoje:
✈️ A LÁ O REGGAETON, AINDA TÁ PRESO NA FILA DO VISTO DO BRASIL…
Por que a música em espanhol ainda tem dificuldade de entrar no Brasil?
por Evandro Lira
Se você conferiu a nossa edição da semana passada, já sabe que o porto-riquenho Bad Bunny lançou um álbum espetacular — foi até eleito o melhor lançamento da semana pela Sonora. Com ele, Benito reafirmou seu status de fenômeno global, se tornando o primeiro artista latino-americano a emplacar um total de 113 músicas na Billboard Hot 100 e dominando o chart mundial do Spotify, incluindo o primeiro lugar com a faixa viral DtMF.
Mas, apesar de todo esse sucesso — que não é de hoje, vale lembrar —, os charts brasileiros mal notaram. A semana passada foi a primeira vez que Bad Bunny apareceu nas paradas de música do Brasil, com DtMF fazendo entradas modesta no chart brasileiro da Apple Music e do Spotify, um reflexo claro da resistência do país à música em espanhol, mesmo diante de fenômenos gigantescos como Bad Bunny. A pergunta que fica é: o que impede o Brasil de abraçar essa onda?
🏝️ Uma ilha gigantesca no meio do Atlântico
O Brasil é um caso bem curioso no mapa musical global. Enquanto o reggaeton e o trap dominam paradas na América Latina e além, o Brasil segue uma rota distinta, com charts liderados por sertanejo, funk e trap. Entre os 150 artistas mais ouvidos no Spotify Brasil em 2023, nenhum cantava em espanhol. Isso não é coincidência: é um reflexo de uma barreira cultural construída ao longo de décadas.
Nosso isolamento não é apenas linguístico, mas também histórico e mercadológico. Um estudo da Folha em 2019 mostrou que o Brasil era o país mais isolado musicalmente do mundo, com apenas 19% de semelhança entre seus hits e os de outros países, enquanto nações vizinhas compartilhavam até 80% das listas. Mesmo se isso tiver mudado nos últimos anos, não fez nem cócegas no fato de que somos um mercado de música autossuficiente, que consome intensamente sua própria produção e, frequentemente, negligencia influências externas — exceto quando vêm do mundo anglófono.
O Brasil é um país continental, bastante diverso e possui uma quantidade impressionante de gêneros que é muito nosso. Do tecnobrega ao pagode, do axé ao piseiro, o país oferece um ecossistema cultural tão rico que não sobra tanto espaço para sons estrangeiros se consolidarem. Dá para dizer que é nesse contexto que o funk emerge como um dos grandes protagonistas, ocupando no Brasil o papel que o reggaeton desempenha na América Latina: uma força cultural nascida nas periferias, marginalizada e, eventualmente, dominante.
📺 A TV tem papel importante nisso?
Há quem diga que, nos anos 1990 e 2000, o Brasil viveu um verdadeiro "boom latino". Nomes como Shakira, Ricky Martin, Alejandro Sanz e RBD dominaram rádios, trilhas de novelas e programas de TV. Mas o que mudou de lá para cá?
Uma resposta possível é o enfraquecimento da TV e do rádio como canais de amplo alcance cultural. Com a descentralização desses meios e a ascensão da internet, a música em espanhol perdeu espaço, e o mesmo aconteceu com boa parte da música estrangeira. Hoje, até mesmo o pop em inglês, que já foi onipresente e que sempre chegou até nós por influência desses meios, virou um nicho.
A forma como as pessoas conheciam essas músicas era através desses espaços, e uma vez que eles deixaram de ser influentes, a maioria não está disposta a ir atrás de ouvir ritmos diferentes em uma língua que elas não entendem – principalmente com a quantidade absurda de música que fazemos por aqui à disposição.
📣 Mas e quando tem divulgação?
Apesar de todos os desafios, há sinais de que o brasileiro está disposto a abraçar a música em espanhol — desde que ela chegue até ele. A colombiana KAROL G, um dos maiores nomes do reggaeton, é um exemplo de como conquistar o coração dos brasileiros, famosos por sua lealdade aos artistas que amam.
Ela é uma fã assumida do Brasil, já participou do nosso carnaval, cantou funk, se juntou ao Dennis DJ e Kevin O Chris no remix de Tá OK e a Simone e Simaria em La Vida Continuó. No ano passado, KAROL G trouxe sua turnê Mañana Será Bonito para São Paulo e já colheu alguns frutos. Inicialmente planejado para um espaço com capacidade para 8 mil pessoas, o show precisou ser transferido para um local maior, atraindo um público de 13 mil fãs.
O momento mais recompensador veio alguns meses depois, quando KAROL G fez história no Rock in Rio, colocando 100 mil pessoas para dançar ao som de seu reggaeton. Então, será mesmo que o público brasileiro não tem interesse na música latina?
A música em espanhol pode, sim, encontrar seu lugar ao sol verde e amarelo, mas isso não vai acontecer de forma orgânica. Precisa haver esforço coordenado da indústria com estratégias de marketing mais eficazes, parcerias certeiras e um investimento real em divulgação. Não é sobre desinteresse, e sim sobre exposição.
Quando uma artista como KAROL G consegue levar mais de 10 mil pessoas em seu primeiro show no país e levantar multidões no Rock in Rio, fica claro que há abertura para isso. O desafio, então, não é conquistar corações, mas fazer com que esses ritmos cheguem a mais ouvidos.
De qualquer forma, ainda que seja pouco provável que o espanhol por aqui alcance o nível de adesão da música em inglês ou, menos ainda, da nossa própria produção musical, será que isso precisa ser o objetivo? Vamos combinar que o Brasil não precisa de um "boom" da música em espanhol, e nossos vizinhos também não dependem de nós para conquistar o mundo, eles já estão fazendo isso muito bem.
🫨 UMA QUASE CRISE NO MERCADO DA MÚSICA
Como o susto com o ban do TikTok nos EUA afeta a indústria da música?
Lembram-se daquele sofrimento pelo qual passamos quando o Twitter/X foi banido por aqui ano passado? Pois bem, os estadunidenses sofreram com algo parecido: no domingo (19), o TikTok parou de funcionar na terra de Beyoncé.
Ok, talvez não seja motivo para tanto desespero porque Donald Trump, o novo presidente dos Estados Unidos, prometeu trazer o aplicativo de volta e cumpriu a promessa: menos de 15 horas depois do ban, o aplicativo voltou a funcionar no país. Mas, isso não impediu que o pessoal procurasse alternativas para manter o vício em vídeos curtos — mais ou menos como fizemos com o Koo e o BlueSky — e que toda uma discussão sobre o impacto da suspensão do TikTok tenha surgido.
Mas, antes de falarmos como isso vai afetar o mundo da música, vamos a um pouco de contexto.
🚫 Por que o TikTok foi banido dos Estados Unidos?
Em abril de 2024, Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos, sancionou uma lei que obrigava que a ByteDance, empresa dona do TikTok e de outros aplicativos, como o CapCut, tivesse um novo dono no país.
A lei foi criada pois, segundo os EUA, a ByteDance coletava dados confidenciais dos 170 milhões de americanos usuários do TikTok e poderia usá-los para espionar o país — representando um risco à segurança nacional.
Na época, foi dado um prazo de 270 dias para que a ByteDance encontrasse um novo dono. Na tentativa de se manter no país, existiam boatos de venda da empresa para Elon Musk e Mr. Beast, mas nenhuma das negociações foi para frente.
O resultado é que, na manhã do dia 19/01, o TikTok foi suspenso nos Estados Unidos. Poucas horas depois, Trump decidiu trazê-lo de volta, em uma estratégia política para conquistar a simpatia dos jovens estadunidenses.
🎶 E como isso afetou a indústria da música?
Ok, como já falamos dezenas de vezes aqui na Sonora, o TikTok é, basicamente, uma máquina de criar ou resgatar hits, fazer artistas bombarem e até mesmo decidir os rumos da produção musical — toda a discussão sobre músicas mais curtas surgiu devido ao aplicativo.
Hoje em dia, ele é a ferramenta mais utilizada para o marketing de artistas — tanto os estreantes como os que já estão há tempos na indústria musical —, ou seja, para a promoção de suas músicas: "Se você olhar o top 50 global do Spotify, a maioria das músicas são trends no TikTok”, explica Ray Uscata, diretor da agência de marketing musical Round, em entrevista para o The Guardian. “Nenhuma delas está vindo de nenhuma outra plataforma”.
Para as gravadoras e agências de marketing que trabalham com música, o TikTok vai além de um aplicativo para entretenimento, funcionando como uma plataforma para descobertas. Foi por meio dele que Lil Nas X hitou com Old Town Road, Benson Boone se tornou conhecido por Beautiful Things e Addison Rae se tornou conhecida para se transformar em uma “rising star” da música alternativa: as pessoas acessam o TikTok para descobrirem novidades, que são dadas a elas por meio da curadoria de um algoritmo que conhece os mínimos detalhes do usuário.
Por isso, a pergunta aqui pode não ser “como o fim do TikTok vai afetar a música?” e sim uma mais específica: artistas consolidados, como Taylor Swift ou The Weeknd, sofrerão menos com o ban do aplicativo, já que já tem uma base de fãs consolidada e são conhecidos mundialmente. Mas, com o fim do lugar onde as pessoas iam para descobrirem novas músicas, o que seria dos artistas indies, daqueles que estão se lançando no mercado musical ou daqueles que, apesar de não usarem o aplicativo, precisam da força do TikTok para impulsionar sua arte?
🖥️ Quais são as alternativas ao domínio do TikTok?
O TikTok pode ter voltado a funcionar rápido nos EUA, mas as pessoas que trabalham com música viram dois caminhos para seguir sem ele: correr para outras plataformas que funcionem como o aplicativo — uma solução imediatista — ou apostar em mostrar o trabalho em outros lugares na internet — algo que vai demorar para render frutos.
Meredith Gardner, ex-vice presidente de marketing digital da Capitol Records, comentou, em entrevista ao The Guardian, que está incentivando os artistas sob sua tutela a encontrarem formas de construir uma base de fãs e sugeriu até mesmo que alguns deles criassem uma newsletter no Substack.
Por outro lado, algumas pessoas veem o susto com a queda do TikTok como algo positivo. “Os artistas estão sentindo muita pressão para se tornarem virais, e isso está mudando a maneira como eles estão fazendo música”, disse Joe Aboud, fundador da empresa de gestão e marketing 444 Sounds. “De certa forma, ter o TikTok não sendo o governante do mercado moderno pode permitir que os verdadeiros criativos se sintam um pouco menos limitados.”
A lição que fica é que não dá para depender apenas de um canal para trabalhar com música: é importante fortalecer seu trabalho nos diversos aplicativos que existem por aí e reforçar a relação com os fãs, que são as pessoas que evidenciam o artista de forma orgânica para que ninguém precise depender de um algoritmo para acontecer.
🎵 O QUE VEM POR AÍ
Novos discos de FKA Twigs e Central Cee
EUSEXUA, o aguardado terceiro álbum de FKA twigs, finalmente será lançado! O trabalho chega aos nossos ouvidos na sexta-feira (24) e já tem três singles lançados. Ouça-os e faça o pré-save aqui.
O rapper inglês Central Cee lança Can’t Rush Greatness, seu terceiro álbum, também nesta sexta. O artista é fã de música brasileira e já trabalhou com L7NNON e Papatinho. Vale conhecer.
O duo sueco Studio anunciou a reedição de seu álbum de estreia, West Coast com lançamento marcado para 24 de janeiro. A reedição trará o cultuado disco de 2006 para as plataformas de streaming pela primeira vez, além de disponibilizá-lo em LP, cassete e mini-disc.
Mostrando que ainda não é um pouco tarde demais, JoJo lançará o EP NGL em 24 de janeiro, contendo 8 faixas, incluindo os ótimos singles Porcelain e Too Much to Say.
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BEST NEW BRASILIDADES
BaianaSystem mostra que a Terra não é plana e o mundo dá voltas
por Gabriel Sant’Ana
O BaianaSystem lançou na última semana seu quinto álbum, O Mundo Dá Voltas, trabalho que deixa claro a evolução natural da banda. Com produção de Daniel Ganjaman, os artistas misturam novas influências ao já marcante som afro-baiano e convocam participações de peso para as 13 faixas.
Elas são muitas, mas a gente destaca algumas para dar o gostinho: Gilberto Gil, Seu Jorge, Anitta e Emicida estão lá, e, ainda temos a voz de Pitty, que aparece por meio de um sample bem construído e conectado ao tema do disco.
A banda consegue equilibrar músicas agitadas, faixas instrumentais e temas variados, conectando-se ao público de forma honesta e natural. O disco trata desde problemas sociais e sistêmicos até curtição e auto permissão, com arranjos que mantêm a essência cultural da banda e abre espaço para novas experimentações.
Se você já era fã, pode achar que a banda conseguiu se superar. Se ainda não era, talvez esse seja o disco que vai te fazer mudar de ideia. Afinal, o mundo realmente dá voltas. Ouça!
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A gente não ia deixar passar…
Durval Luz e Nino Balla, compositores da música Caranguejo, afirmam que processarão Claudia Leitte por alteração em música e intolerância após ela remover Iemanjá da letra sem autorização.
Com Caetano Veloso, Jorja Smith e Liniker, o festival Rock the Mountain divulga seu line-up. Os artistas dos dias 31, 01 e 02 de novembro e se repetem nos dias 07, 08 e 09 de novembro. Descubra quem são as outras atrações!
Ah, hoje ao meio dia serão anunciados os sideshows do Lollapalooza. Se você não vai ao festival, é hora de torcer pra rolar um show solo de sua atração preferida. Fique ligado no nosso X, falaremos sobre isso por lá!
Drake arregou e pediu pela retirada da petição que fez acusando o Spotify e a Universal Music Group de inflar ilegalmente os números de streaming de Not Like Us, de Kendrick Lamar.
Nesta sexta-feira, Duquesa leva sua turnê para a Casa Natura Musical em São Paulo. A apresentação será focada em Taurus, o último lançamento da artista e 24º melhor álbum de 2024 pela Sonora!
Com a ascensão do dance na música pop, a Billboard inaugurou seu novo chart na última semana: Hot Dance/Pop Songs. Na estreia da parada, apareceram músicas de Tate McRae, Charli xcx, Billie Eilish, The Weeknd, Anitta, Ariana Grande, Betsy, Maria Yankovskaya, bbno$, Katy Perry, Doechii e Kesha. Confira!
Por falar em Tate McRae, Billie Eilish e Katy Perry, as três se juntam a nomes como Lady Gaga, No Doubt, Joni Mitchell, FINNEAS, Red Hot Chili Peppers, P!nk, Olivia Rodrigo, Gracie Abrams e Stevie Nicks para o evento Fire Aid que acontece na próxima semana em prol dos afetados pelos incêndios em Los Angeles. Veja o lineup completo.
Mesmo após o fim da turnê, Taylor Swift pode adicionar um show especial da The Eras em Xangai. Zhang Qi, vice-diretor do departamento de Cultura e Turismo, disse que já conversou com a equipe da cantora, e há otimismo para que o show aconteça.
Aaah, dá o anjo pra ele! Olha como ele é acessível… Durante o show do Coldplay em Mumbai, Chris Martin agradeceu aos fãs indianos por sua recepção calorosa, mesmo diante do passado colonial britânico. “Obrigado por nos receberem, mesmo sendo da Grã-Bretanha. Obrigado por perdoarem todas as coisas ruins que a Grã-Bretanha fez”, disse o vocalista.
DeBÍ TiRAR MáS FOToS de Bad Bunny, nosso Best New da edição passada, agora é o terceiro álbum a alcançar mais rápido 1 bilhão de streams no Spotify, ultrapassando Un Verano Sin Ti, também do cantor.
Justin Bieber postou fotos no estúdio de gravação e parece estar planejando um comeback. Pelo jeito, criar uma criança é tão caro que ele teve que sair da aposentadoria.
Já pensou em se formar em Heavy Metal? Uma universidade na Holanda agora oferece um curso completo em 'Metal Factory', ensinando desde o growl perfeito até como virar um empreendedor no mundo da música.